sábado, 3 de abril de 2010

A Fábrica do Poema


Sonho o poema de arquitetura ideal

Cuja própria nata de cimento

Encaixa palavra por palavra,

Tornei-me perito em extrair faíscas das britas e leite das pedras.

Acordo;


E o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.

Acordo;


O prédio, pedra e cal, esvoaça

Como um leve papel solto a mercê do vento evola-se,

Cinza de um corpo esvaído de qualquer sentido

Acordo;


e o poema-miragem se desfaz

Descontruído como se nunca houvera sido.

Acordo!


Os olhos chumbados pelo mingau das almas

E os ouvidos moucos,

Assim é que saio dos sucessivos sonos:

Vão-se os anéis de fumo de ópio

E ficam-se os dedos estarrecidos.

Metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros

Sumidos no nevoeiro.

Não deve adiantar grande coisa permanecer à espreita

No topo fantasma da torre de vigia

Nem a simulação de se afundar no sono.

Nem dormir deveras.

Pois a questão-chave é:

Sob que máscara repousar o recalcado?


Composição: Adriana Calcanhoto/Wally Salomão

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